Primeiro filme de tela dupla de Warhol, que já fez uma função completamente diferente de um Chealsea Girls, por exemplo. Lá, uma ideia de simultaneidade e "através das paredes" é evocada por se tratar de um hotel, vários quartos, vários hóspedes. Aqui, uma multiplicação funcional entra em vigor. Existem quatro Edie Sedgwick, duas "no interior" do quadro (imagem dentro da imagem), e outras duas "fora", passando somente pela primeira das camadas. A estrutura é simples, observamos, em tela dividida, duas filmagens de Edie conversando com alguém "fora" da tela, das quais a câmera estática apenas a observa, incluindo zoom in e zoom out intercalados no que aparentemente age em ausência de padrão (ainda que em uma das vezes o zoom in parece acontecer para ocultar um segundo personagem que vaga pelos fundos daquela sala escura). Porém, a maior das belas ironias de Warhol é que a pré-filmagem do rosto em perfil de Sedgwick, sendo reproduzido em uma televisão atrás da(s) Edie "de fora", enfrenta as oscilações do vídeo: o efeito de flicker e, também, legítimas deformações. O impacto é extraordinário. Também remonta ao trabalho de Warhol em alguns de seus objetos artísticos, onde imagens (de diferentes condições) são reproduzidas aos montes, com pequenas, mas fascinantes variações (em cor/vista/brilho; isto é, tudo o que foi reforçado para mim com a visão das serigrafias, desenhos, pinturas e esculturas da exposição em São Paulo). Ou seja, quando se diz que a grande questão dos filmes de Warhol seja "o tempo" (considerando que esta seja uma proposta válida) existe uma perspectiva oculta (da qual percebi esta semana assistindo à Beauty #2): filmes são tiras com emulsões fotossensíveis de intervalos em sucessão de captura de luz; então, quando a câmera está em estase, infinitas modulações (micro/macro) a partir de um mesmo local/"mesma base" são possíveis. É como se o sistema de trabalho cinematográfico fosse um par perfeito para o que Warhol estava fazendo em seus negócios. Essas deformações (da tela de TV; da própria película em que se reproduz o filme [de acordo justamente com o tempo]), também, enfim, sugerem a vulnerabilidade da tira e das representações provocadas desde antes dos 1960. Variações e variações, esta é a grande questão dos filmes de Warhol — que implicam em outras várias. Meu preferido.
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